#42: Não precisamos continuar sós
Quando eu era pequena, tinha certeza (ou pretensão) de que era capaz de compreender e lidar com questões emocionais complexas por conta própria. Criada entre adultos, aprendi por imitação a querer dar conta das coisas, a assumir responsabilidades, a precisar ter respostas, soluções e estratégias. É bem provável que eu acreditasse, como criança que era, que aqueles adultos à minha volta soubessem de verdade o que estavam fazendo (coitados!). Assim, este engano idealizado acabou se tornando um modus operandi – e consequente gatilho pra quase toda a ansiedade que houver nessa (minha) vida.
Da mesma forma que a liberdade e a independência foram servindo um banquete pra minha alma, tive que me relacionar com uma profunda sensação de solidão. Algo que acreditei, até bem pouco, que era um preço a pagar. Nos momentos delicados e fundantes, me enxerguei só, e encarei esse processo como inevitável, caso quisesse me manter livre.
Racionalizar, assumir, bancar, dar conta, fazer escolhas, criar alternativas. Não parecia haver outro caminho. Assim nasceu uma ‘zona de conforto’ que, a bem da verdade, hoje está mais pra pântano secretamente disfarçado de jardim da autorresponsabilidade. Pode rir (de nervoso comigo)!
Ando me propondo a olhar para esse padrão de comportamento em todos os aspectos da vida. E confesso que alguma leveza andou me visitando ao notar (de relance) que não, não sou responsável por tudo. Não posso salvar nem amparar a todos nem agradar sempre.
Estabelecida, portanto, essa nova referência para minhas pretensões e carências, me deparo com mais uma descoberta inusitada: a liberdade pode ter outras caras. Vejo surgir uma face amorosa que desata nós e amarras invisíveis - algemas tatuadas pela necessidade de sobrevivência afetiva. Começo a entender que posso escolher, experimentar, e que, sobretudo, posso também me despedir da solidão no encontro comigo, enfim.
Nessa trilha, me peguei aqui tentando entender meu desejo para esse espaço de conversa - essa Newsletter. Ela começou a partir de uma necessidade profunda de troca e autoexpressão e passou a um formato mais amplo, com dicas e recomendações do universo diverso que me habita. Acontece que reparei num incômodo: eu estava me sentindo só. Foi intuitivo me questionar, então, onde essa conversa ainda se encontrava comigo, com você e com o ‘nós’?!
A resposta veio fácil. Não quero que esse papo ‘No Pé do Ouvido’ seja mais uma fonte de referências e demandas (a dizer: “veja, faça, ouça”) - ainda que eu zele por uma curadoria feita de afeto e intenção de bem estar. Minha vontade é genuinamente oferecer um respiro, um abraço no meio do dia, um carinho ou um cutucão (de leve), que seja!
Por isso, volto ao simples. Retomo uma escrita íntima e refaço o convite. Não só para que você continue por aqui, como também para que possa, na medida da vontade, partilhar comigo os seus suspiros, me ajudando também a sustentar a leveza de não ser só. Não há de ter objetivo maior e mais bonito que trocar olhares e interessâncias.
Um beijo!
Dani Moraes
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