#30 – Pleonasmo
Vivi a chegada da maternidade de maneira intensa, como costuma ser mesmo todo o meu way of life (para saber mais, pesquise: “lua em escorpião”). Estudei sobre gestação e parto, mergulhei de cabeça na luta pela humanização do nascimento, escrevi sobre o assunto, tive Blog, dei entrevista, palestra, organizei eventos, fiz assessoria de comunicação na área e o escambau.
Tive dois partos naturais e um deles domiciliar. Vivências que transformaram a minha vida, a expectativa da minha maternidade (nas suas dores e delícias) e a minha relação com o meu corpo. Conheci uma força e uma potência que sequer imaginava que existissem.
Corta pra hoje. Olho para aquela mulher recém-parida, com o peito cheio de leite e só, com muito amor e compaixão. Penso em tudo que ela precisou desconstruir para viver a sua escolha, na solidão de não saber o que significava rede de apoio. Tenho vontade de abraça-la, servir um chá quentinho, fazer companhia para ela em qualquer tarde daquele puerpério solitário. Tá aí! O maior pleonasmo da língua portuguesa: puerpério solitário!
Penso na relação intrínseca entre nascimento e morte, entre tudo que finda e recomeça, términos e novidades. A gente vivendo esse fim de mundo, o Ailton Krenak tentando nos ajudar a adia-lo. Faz tempo que parece que morremos um pouco a cada dia. E morremos, literalmente, pra mais de 450 mil e contando. Morremos de medo, de raiva, de tristeza, de saudade.
Ainda que de alguma maneira estejamos morrendo desde o dia em que nos consideramos vivos, esse gerúndio definitivo nunca pareceu tão presente. Um eterno estar e não estar, em looping. O puerpério solitário do mundo, sincrônico, irreversível.
Porque não posso abraçar o meu pai nem as amigas, abraço poetas, abraço mulheres que me ensinam a ser inteira, abraço as meninas que me permitem o amor profundo da maternagem. Abraço o companheiro, igualmente náufrago, entre as embarcações de incertezas do hoje e de serás do amanhã. Faço planos para não cumprir, numa tentativa de caber no calendário insólito do não sei.
O mundo é agora uma mãe com um bebê no colo, sangrando.
Um grande beijo!
Dani
Filhote no mundo
Está no ar o primeiro episódio do meu podcast "Palavra - Substantivo Feminino" - um espaço fértil para cultivarmos boas conversas. A convidada mais que especial dessa estreia é Lella Sa – facilitadora de diálogos, mentora e coach, que ajuda mulheres a encontrarem direção em suas vidas para terem um trabalho com significado e um estilo de vida com propósito. Ela contou sobre sua trajetória de vida e a sua experiência no apoio de mulheres em transição de carreira e muito mais. Um papo leve e profundo, daqueles que dá vontade de suspiros e sorrisos.
Dá pra ouvir o podcast clicando aqui ou no seu tocador favorito. Toda semana uma conversa boa sobre como podemos sustentar nossas ações, desejos e atitudes, tendo a palavra como guia para que seja possível transformar nossas vidas e, quem sabe, chamar mais gente para essas realizações.
Se você quiser esticar essa conversa depois de ouvir o episódio, te espero no meu Instagram @danielemoraes.