#24 – Entre meias e ausências
Estou aqui hoje para te contar que ganhei um abraço, um pôr do Sol, um bilhete escrito à mão e cápsulas de renascimento para a Lua Nova. Tudo de presente, de uma vez. No silêncio, que teima em reinar no peito, na voz condicionada ao recolhimento do medo, que mais uma vez grita muda, estou aqui hoje para te contar de retomadas.
Há muito pouco percebi que não basta evitar o erro, é preciso celebrar o rabisco. Devo ater-me à ele, encará-lo e sustentá-lo. Sentir agredir-me os olhos e sequestrar-me os prazeres do belo. Saber-me aos pedaços, entregar-me às incertezas.
Estou aqui hoje por incendiar minha própria fênix e seguir aprendiz do corpo, que morre e renasce simultaneamente. Estou aqui hoje porque habito minha voz e minha escrita. Estou aqui porque não sei ser inteira em outro lugar e se, ainda aqui, me ressinto e temo, é porque aqui ensaio também minha redenção.
Ainda dói a exposição, o tapa na cara, o desamor. Ainda arde o Sol na pele há tanto reclusa, salva, porém queimada. Ainda dói o arrepio gelado da covardia, da pequenez. Ainda dói o impulso da culpa e a sombra do abandono. Mas não vim para chorar.
Estou aqui hoje porque preciso dizer, e você me ouve. Estou aqui hoje porque seguir é o caminho do mar, da escolha, do pulso. Estou aqui porque sinto prazer ao digitar essa composição intuitiva de letras que vão se misturando, alquimicamente, em palavras na tentativa tátil e sutil de existir.
Estou aqui hoje porque o amanheceu nublado, tem um vento frio e meu sangue chegou. Estou aqui porque hoje é meu primeiro dia e vesti meias confortáveis. É Lua Nova e estou aqui hoje para recomeçar e entregar em palavras as intenções do meu devir. Estou aqui hoje para forjar o silêncio interior que não encontra acolhimento no caos. Estou aqui hoje porque estou viva e morta, assim como você.
Um beijo grande!
Dani